Cultura

A premiada escritora Aline Bei participa da Flifs na sexta-feira (29)

A escritora Aline Bei participa da 16ª edição da Feira do Livro / Festival Literário e Cultural de Feira de Santana (Flifs) na sexta-feira (29). A conversa, que será mediada por Edson Oliveira, ocorre às 16h30 no Teatro do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca). A entrada é gratuita, assim como todas as atividades do evento literário que será realizado entre os dias 26 de setembro e 01 de outubro, na Praça Padre Ovídio. A programação completa você confere no site www.flifsoficial.uefs.br.

Aline Bei é formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes Cênicas pelo Célia Helena Centro de Artes e Educação. Seu romance de estreia, “O peso do pássaro morto” (2017), foi vencedor do prêmio São Paulo de Literatura, na categoria melhor romance de autor com menos de 40 anos, e do prêmio Toca, além de finalista do Prêmio Rio de Literatura. O segundo livro da escritora é “Pequena coreografia do adeus”, que foi lançado em 2021 e finalista dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura de 2022.

Em entrevista, a autora falou sobre processo de criação, influências, troca com os leitores e participação em eventos literários. Ela também destacou a participação das mulheres na literatura brasileira e a importância do surgimento de novas autoras a partir do diálogo e identificação com mulheres escritoras. Aline Bei ainda contou quais livros está lendo no momento. Confira abaixo:

Como é o seu processo de criação? Quais influências permeiam a construção dos livros?

O meu processo de criação costuma ser lento e imersivo, cheio de nuances, no sentido de aproximação e afastamento do tema e do modo como eu consigo fixar algumas coisas no início e depois sinto muita dificuldade e continuo na reescrita. Então, o meu processo costuma se dar em anos, até que o livro finalmente se estruture, no que ele vai se tornar e seja publicado. Eu tenho referências que são de livros, de literatura, como Clarice Lispector, Hilda Hilst, Bernardine Evaristo, mas também me inspiro muito em outras artes. Adoro ir ao teatro, cinema e museu e a partir dessas influências de outras linguagens vou encontrando o modo como vou finalmente abordar e fixar o meu livro na folha.


Os livros ”O Peso do Pássaro Morto” e ”Pequena Coreografia do Adeus” trazem angústias, medos, dores e anseios de personagens mulheres, mas com perspectivas diferentes. O retorno que você recebeu dos leitores sobre o primeiro livro influenciou na escrita do segundo?

Sem dúvida! Eu converso muito sobre isso nas mesas que faço porque eu sou uma escritora muito atenta aos meus leitores. A gente conversa bastante, na medida do possível, seja pela internet ou também nos eventos. Ter escrito um livro que de alguma forma foi um livro que eu sinto que deságua uma força catártica nas pessoas, que é o Pássaro, especialmente as mulheres acessam muito as águas e traumas, eu fiquei com o desejo de escrever uma segunda história que pudesse, mesmo que também abordasse temas de dor e de perda, pudesse trazer um fio de esperança maior. Eu me sinto profundamente influenciada pelas leituras que recebo e acho que vou me abrindo também a tudo, ao mundo e a mim mesma. Vou tentando acessar cada vez mais as profundidades que sinto que estão em mim para construir as histórias que vou escrevendo ao longo dos anos.

Você busca uma linguagem própria na escrita que marque a sua identidade pessoal?

Eu busco uma originalidade e acho que todo escritor se preocupa com isso, mas também isso não pode ser a nossa primeira preocupação. A escrita passa por muita reescrita e, o nosso estilo, a nossa voz vai sendo desvendada ao longo dos anos e do próprio trabalho, e está em constante transformação. É um processo contínuo de aproximação e distanciamento, como eu disse na primeira pergunta. É sobre também o modo como a gente vai lendo e relendo os nossos livros favoritos e como a gente vai entendendo quais são as histórias que cabem melhor na nossa dicção e isso vai formando aos poucos o nosso modo de nos comunicar. Ser exatamente quem somos, e não outra pessoa, já é um forte gesto em direção à originalidade.


As escritoras mulheres estão em um momento de destaque na literatura brasileira. Como você vê o movimento considerando a predominância de um cânone masculino?

Eu sinto que a gente está vivendo um momento muito interessante da nossa literatura contemporânea com uma fluidez de vozes, de diversidade. As mulheres sempre escreveram muito, mas publicam menos que os homens. As mulheres leem mais, estão mais presentes nas oficinas, nos cursos de letras, nos eventos literários, e ainda há uma diferença de número de publicações por homens e mulheres, mas eu acho que isso está mudando. Uma mulher publicando sempre acorda outra mulher escritora que a lê. A questão da representatividade é muito importante e, sendo uma mulher jovem, eu tento dialogar também com as minhas leitoras que têm um lugar de fala parecido com o meu e que se sentem de alguma forma representadas também pela minha escrita. Que a gente possa ir formando ao longo dos anos uma literatura mais diversa, mais complexa, como a gente já tem feito nos últimos dez anos.

Como a participação em festivais literários agrega ao processo criativo de um escritor?

As mesas e eventos literários são muito profundos porque colocam a escritora ou escritor em contato com seu público, além de formar leitores porque nem sempre em uma feira, por exemplo, eu sou conhecida pelo público que frequenta a feira. Muitas vezes eu também construo leitores na cidade onde eu estou por conta da minha fala, da minha participação, e isso é muito rico para uma autora jovem. Essa troca, o olho no olho, é muito importante. E o deslocamento também eu acho que favorece muito a criação literária porque eu acabo conhecendo lugares, cidades, pessoas que sem o evento, sem essa oportunidade da feira, eu não conheceria. E isso transforma completamente o meu universo, o meu mundo sensível de uma forma que eu quase nem consigo prever, mas tenho sentido muito na minha literatura, como as minhas viagens me fazem bem, como essa troca com outras pessoas é importante tanto para mim quanto também para as pessoas que escrevem e que estão querendo começar a escrever, que são leitoras que desejam trazer carne para essa imagem em nome do escritor, que fica num lugar um pouco abstrato. Materializar as presenças é sempre muito interessante.

O que você está lendo no momento?

No momento eu estou lendo os diários da Virginia Woolf. Tenho adentrado a obra dela pelos ensaios primeiro e agora pelos diários. Uma autora que é bastante complexa e que eu tenho vontade de estudar firme. Tenho usado essa estratégia de começo pela não-ficção e também por esses diários que têm um percurso muito bonito, uma escrita incrível da Virginia. Uma escrita que se vigia menos, mais solta e também aberta a possíveis medos e humanidades, que uma grande autora também pode ter.

Fonte: Ascom/UEFS

Foto: Divulgação

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