Cultura

Campus da Chapada reverencia a festa em louvor a Nosso Senhor dos Passos

A coordenadora do Campus Avançado da Chapada Diamantina da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), professora doutora Marjorie Nolasco, publica texto sobre os festejos em louvor a Nosso Senhor dos Passos em Lençóis. Manifestação de caráter único que marca a chegada da imagem de Senhor dos Passos a Lençóis, em 1852.

ZANG- PANGUE, SENHOR DOS PASSOS E DOS CAMINHOS

Senhor Bom Jesus dos Passos;
Galgue montanhas e espaços…
o Louvor de todos nós
São diamantes lapidados
Os corações devotados
dos mineiros de Lençóis
(trecho Hino do Senhor dos Passos – Celso Cunha)


Hoje, dia 2/2/2022, na Chapada Diamantina, se encerra a Festa maior da cidade que acolheu a expansão física, única, da Universidade Estadual de Feira – a UEFS. O Campus Avançado da Chapada Diamantina, o CACD, nos idos de 1998-2000.

Estamos aqui para saudar este momento, em termos do Jarê ou da Igreja Católica, este é o marco cultural principal dessa cidade. Uma manifestação única.

Ela gira em torno de uma cultura cosmopolita e uma força especial, o Senhor dos Passos, imagem, conecta-se a um semelhante na cidade onde a UEFS nasceu, o Senhor dos Passos de Feira, chegou ao Brasil junto com o de Lençóis, mas não ganhou a relevância sócio-cultural do seu igual. Em Lençóis ele foi recebido com pompas e circunstâncias que são marcadas, até hoje, na sua chegada, entre 23/01 e 02/02.

A chegada está vinculada a portugueses fiéis, mas nos meados de 1900 essa igreja acolhe, na noite do dia 01/02, na festa, uma passeata de garimpeiros, os trabalhadores do garimpo, revoltados com a falta de condições e de respeito pelo seu trabalho e por aqueles que nele morriam. A igreja os apoia, e permite sua entrada, avaliza negociações, pede pelos trabalhadores, aos donos das terras do garimpo.

Neste processo a SUM – Sociedade União dos Mineiros é constituída, bem como formatado em Lençóis, um longevo compromisso: o Senhor dos Passos, Zangüe Pangüe protetor dos caminhos, torna-se o Patrono da organização garimpeira, e ela se compromete a cuidar da festa e ajudar a cuidar do seu templo; são forjadas e reforçadas passagens e caminhos, conexões que reforçam-se no tempo.

Quase 100 anos depois, estamos numa festa em plena pandemia, quando será tombada essa manifestação, a altura patrimonial que merece no estado e no país. É reduzido o publico presente, mas ainda assim, com todos os cuidados, estamos aqui e saudamos a importância deste momento!

O garimpo esta reduzido fisicamente na Chapada, mas sua presença e cultura estão fortemente mantidas, garimpeiros eram(são?), antes de mais nada, seres errantes das serras da Chapada, eles entendiam e gostavam das matas, viviam delas e conviviam com plantas, águas, riscos, ditas e desditas. Eles leem a serra, as nuvens, conhecem os remédios, mesmo que nem sempre achem os minerais.

 Quem representa hoje os garimpeiros? Os pais dos nativos lençoenses, em sua maioria tornados guias? o que vão herdar e herdaram estes novos caminheiros? O fato de serem seres errantes das serras da Chapada, que entendem e gostam das matas e dos caminhos, vivem neles e convivem com plantas, aguas, riscos, ditas e desditas, os aproximam. Eles aprenderam e aprendem a ler as serras, as nuvens, os remédios, agora seus principais diamantes, junto com as histórias contadas de ouvido em ouvido, de pai para filho, neto.

Viva ao tombamento da Festa do Senhor dos Passos, esse traçador e conectador de caminhos. Que juntou cidades tão distantes de caminhos cruzados pelas boiadas, que atendiam as terras de ouro e diamantes e seguiam para a Feira, em Santana dos Olhos D´Água.

Viva a cultura capaz de se refazer e retomar, deixando heranças hoje usadas pelo novo motor econômico, o turismo, conectador de gentes de fora e de dentro como em toda sua historia, uma cidade cosmopolita. Viva a uma cultura onde os garimpeiros, expoentes da cultura criadora deste território, produtos de toda mestiçagem e violência social,  se negam a morrer e repassam sua referência, aos guias – novos caminheiros – seus filhos.

Viva ao senhor dos caminhos e protetor dos caminhantes. Que persistam e todos possam saber que na noite dos Garimpeiros, se comemora a luta, a memória de uma passeata onde se tinha fé na luta, marco definidor da festa do Padroeiro dos que trabalham e labutavam na serra!
Avante Garimpeiros bem unidos
Sede do País, lição, preceito, exemplo
Cantando ficarão vossos gemidos
Nesse altar de granito, vosso templo
(Canção do Garimpeiro – Letra: Sá Carvalho e  Música: J. Toledo)

Salve o Padroeiro dos Garimpeiros!
Salve Zangue Pangue!
Salve Senhor dos Passos!

Fonte: Ascom/UEFS

Foto:  Marisa Vianna 

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